segunda-feira, 26 de março de 2012

Mein Kony: a bolha ocidental e uma África quase que mitológica.




Disclaimer: Calma. Esse não é mais um post sobre Joseph Kony.


Adolf Hitler, da Alemanha de 1930, memorável líder do Partido Nacional-Socialista e, mais importante que isso, pai célebre das mais loucas teses racistas e anti-semitas desse nosso mundo, é, até hoje, sinônimo de crueldade e guerra. Todos sabem que o Senhor Bigode Macabro perseguiu e matou milhares de judeus, ciganos, homossexuais, eslavos, poloneses, deficientes físicos e mentais, entre outras minorias, a fim de alcançar um objetivo tão sensato quanto o seu bigode: fazer com que a raça ariana dominasse o mundo. O pecado contra o sangue e a raça é o pecado original deste mundo e o fim da humanidade que o comete. As causas exclusivas da decadência de antigas civilizações são a mistura de sangue e o rebaixamento do nível da raça. Todo o que, no mundo, não é raça boa, é joio. E tudo isso num só parágrafo daquele livro satânico que o bigode alemão escreveu, metonímicamente, para a imortalização da loucura do seu dono, e que vendeu, à época, milhares e milhares de exemplares. Um amigo meu me disse que sabe, até que é compreensível, em alemão soa muito mais bonito. É, só pode. 

Centenas de filmes, documentários, museus e mostras depois, a humanidade teve o suficiente de Holocausto e do bigode do Hitler. Já foi. Página virada. Passou.

Nem tanto. Passados mais de 80 anos, o mundo vive coisas piores. Substancialmente piores. Piores porque não estão escritas sedutoramente em alemão e principalmente porque estamos no século XXI. O racional é o de que as pessoas tivessem evoluído escalonadamente, e, com elas, todo o resto, nessa grande era das transformações tecnocratas. A dinâmica política, midiática. O entrosamento dos governos, os jogos de interesses. O envolvimento dos civis. O modo de se fazer revolução. A globalização deveria contar única e exclusivamente ao nosso favor, em tudo e cada coisa. Mas não.

No final dos anos 80, Joseph Kony se fez chefe celestial de uma guerrilha, e, desde então, sequestra milhares de crianças e mata outros milhares de pessoas na África, com o único e singular propósito de estabelecer um governo teocrático na Uganda. O chefe do Exército de Resistência do Senhor - (o nome fica ainda mais ridículo em português, quem sabe, em alemão faça algum sentido) - se diz representante do pai lá de cima e possuído por mais de dez espíritos que o guiam na liderança da LRA e na luta pelo poder. Comparativamente, a tese da raça pura do bigode é uma pérola científica.

Acontece que, apesar de o negão vir fazendo a mágica dele por mais de 30 anos, só virou assunto mundial no início desse ano, quando a Invisible Children lançou aquele vídeo melodramático com a idéia de transformá-lo num astro de Hollywood. Não vem ao causo, mas dizem as más línguas que, no ano passado, a ONG gastou 32% do orçamento de 9 milhas em programas na África, e o resto em salários e produção de filmes. Será que filmaram uma trilogia? Kony, o pai de santo genocida. Eu assistiria. As piores línguas dizem ainda que a Invisible Children apoia intervenções de milícias ugandenses, que, pode-se dizer, não são exatamente os good guys quando o assunto é tortura. E a verdade é que nada disso importa.

Com o que a Invisible Children fecha o caixa no fim do dia ou o que o Obama realmente pretende mandando apoio militar americano para Campala não faz a mínima diferença para esse post, e, me arrisco dizer, para a captura do Netinho de Paula assassino. E ouso empregar a famosa Teoria do Objetivo, criada pelo meu tataravô em 1876, sem entrar nos pormenores da extensa convenção escrita que explica cientificamente a tese. De resumo, o que da Teoria se aplica aqui é a conclusão de que o que importa é o resultado final, independentemente dos entremeios que levaram até ele. E aí que os malucos da Invisible Children conseguiram fazer o que as mídias todas e os governos juntos não conseguiram. O envolvimento dos bonecos espectadores. Como nós e a minha avó Olga no holocausto pré guerra. Pronto. Ponto.

Pois que a volta do blog vai dedicada à verdade, à dura verdade. Essa aí, de que passamos mais tempo no facebook e planejando o próximo corte de cabelo do que lendo as notícias relevantes desse mundo vasto mundo, do que sendo relevantes. A de que passamos muito mais tempo preocupados com a sujeira do papel de parede do living, com as pulgas dos nossos cães, com os duros afazeres diários. Que nem os alemães e o resto do mundo em 1939.

Não. Não quero que ninguém vista a farda camuflada e vá até o Congo, a não ser que tenha a milícia por sonho antigo, de criança. Aí, por mim, tudo bem. Caso contrário, o apelo é outro, muito menos megalomaníaco.

É Ler. Doar 15 doletas por mês para a Invisible Children. Criticar o vídeo clichê no mais belo estilo We are the world produzido pela Invisible Children. Escrever. Pintar. Sentar numa mesa de bar e falar da história da Uganda e da baita régua que as potências coloniais européias passaram na África durante aquele lixo de Conferência. Dar opinião. Voltar para a mesa de bar e falar da régua que passaram no Sudão, de novo, em 2011. 

No fim, a sugestão, babaca ou não, é só uma. Que todo mundo durma e acorde sabendo. Sabendo que um ditador africano rapta e transforma crianças em escravos sexuais e de guerra na Uganda. Que o governo islâmico do Cartum faz uma limpeza étnica nos Montes Nuba. Que albinos são mortos para que partes dos seus corpos sejam comercializadas no Burundi. Que a mutilação genital das meninas é norma entre a etnia majoritária do Quênia. Que familiares torturam e matam suas crianças, acusadas de possessão demoníaca, na África Austral. 

Hoje. Não há 80 anos atrás. Em português, inglês, francês, em vários dialetos, não só em alemão. Aqui, no Planeta Terra. Não em Mercúrio.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Paráfrase sentimental.






Na terça-feira passada li a coluna do Ivan Martins na Época. Amor bom é facinho, o título. Fiquei um pouco surpresa, confesso. Primeiro com o assunto sócio-afetivo, e depois com o título, digno de hit sertanejo universitário. (Cheguei a fazer estrofe de rima rica com amor bom é facinho e depois ritmei. Sucesso, na certa). 

Vencido o preconceito, li, devagar e compassada, de cabo a rabo, tomando o meu tempo para as reflexões que as linhas iam me exigindo. Terminei. Compartilhei com amigos. E passei os dois últimos dias com o assunto martelando a cabeça nos minutos vagos, e nos não tão vagos também. Creditei ao autor a coesão do texto, repudiei a objetividade com a qual ele tratou um assunto tão pouco quase nada objetivo. Resolvi então escrever eu, como que para organizar as idéias, com o perdão da paráfrase sentimental.

Para quem não leu a coluna, fala-se, em resumo, de como estamos acostumados a supervalorizar tudo aquilo que vem com esforço e dedicação. Mais que isso: fala-se de como fomos socialmente treinados a achar que só tem valor o fruto das duras penas, inclusive no campo afetivo. E nele, a conquista, o flerte, os jogos de advinha o-que-eu-sou-e-o-que-é-que-eu-quero. O fiz de conta que não vi que você me ligou e o estou muito ocupado para tentar denovo que vem de troco. O você não sabe o que eu penso e o que eu sinto. E depois disso, o esforço de um, que acha que é com ele que se conquista e que se vai, de jeito ou de outro, chegar lá.

O contraponto do autor, baseado na experiência pessoal, é o de que, na maioria das vezes, com os relacionamentos, a história é diferente. Não se joga xadrez. Não se tem oponente. Se gosta, se identifica, se encontra. E pronto. Easy as pie. Será?

Não sei a resposta. Nem acho, na verdade, que ela exista, assim, curta e direta, simples e objetiva. Talvez ela exista para o Ivan, homem, meia-idade, casado e descasado. Para mim, e tenho a impressão de que para a maioria das mulheres da minha idade, o rolo é maior que novelo de lã e não há perspectiva de desemaranhar. Explico.

A minha geração, e as gerações depois dela, receberam e recebem os mais diversos estímulos. A maioria, conflitantes. Geração cérebro de pipoca: romances do Machado de Assis seguidos de filmes Hollywoodianos do amor de enredo, que sai correndo no aeroporto aos 45 minutos do segundo tempo para pedir perdão e propor casório. Histórias de vô e vó, de amor construído, cultivado aos poucos, compartilhado, bem no intervalo daquela novela da Globo onde a mocinha estava com um irmão, depois fez que resolveu casar com o outro. Atriz que tem 5 filhos, um de cada pai e o quinto de um super amigo homossexual, e isso tudo aos 25 anos. Mulheres que se dedicam à carreira até os 40, para só daí pensarem em filhos, aos 41. O amor à duras penas convive com o amor fácil e com o amor líquido na minha sala de TV. E na do Ivan?
 
Acho mesmo que não há verdade ou mentira, certo ou errado. Ao que me parece, cada um é um, e cada caso é outro caso. E que, como o próprio Ivan disse, receita de bolo não há. Principalmente nos dias de hoje. Culpemos Freud, a mídia, Woody Allen e Godard. Culpemos o Zezé de Camargo, as novelas da Globo, o facebook e o dia nos namorados. Culpemos os que vivem repetindo que a vida é simples, nós que complicamos, Mário Quintana, Lenine, a Carrie Bradshaw e o Mr. Big. Culpemos mãe, pai, avós, ex-namorados e o Drummond, que um dia me disse sossegue, o amor é isso que você está vendo, hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será. Culpemos os fabricantes de caixas de chocolate em formato de coração. E os editores de cartões comemorativos, que põe palavras nas nossas bocas. Culpemos todos os poetas. Todas as músicas lentas do mundo. Culpe-se quem ou o que quiser, a verdade é uma só: a minha geração não sabe o que é o amor.

A minha geração sabe, e aí sim, o que é amor próprio. Aquele egoísta, que olha no espelho, depois para o umbigo. Do amor de verdade, strictu sensu, amor romântico, amor ao próximo, esse daí  é só um bando de estímulos. Perdeu a identidade. 

Fala-se dele, duvida-se dele, discute-se ele. Desenham ele. Vendem ele. Escrevem sobre ele. Sentir que é bom, nada. Ou muito, muito pouco.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Desnamorados.



Combinaram o jantar no dia anterior, por telefonema de iniciativa de Pilar. Falaram da semana, do frio dos últimos dias, e marcaram às vinte horas do domingo sem pressagiar as conseqüências. Se encontraram na frente da casa de Acir, Pilar a pé, de saia comprida e as botas de inverno. Acir com fome e sereno, Pilar alheia à data, desromantizada. Mas a verdade é que ninguém te deixa desromantizar no dia dos namorados – Acir sentiu, pensou com ele mesmo, e sorriu enquanto fechava o portão da frente com duas voltas de cadeado.
Escolheram um restaurante qualquer, da vizinhança, que já é tarde, Acir, e estamos a pé. Acir concordou, como fazia sempre com Pilar e com quase todo o resto. Chegaram, entraram. Tudo à meia luz, decorado em meios-tons de todos os vermelhos da paleta de cores do universo, com flores por todos os cantos (até os cantos que não eram bem cantos). Danni Carlos no som ambiente fez Acir perguntar o que era aquilo e Pilar respondeu, com aquele jeito de não há o que você queira saber que eu não tenha a resposta, Acir. Se olharam, acharam engraçado. Escolheram uma mesa de dois lugares, frente a frente.
Os casais estavam por toda a parte. E todo o tipo deles. Não prestaram atenção em nenhum em especial e sentaram. Pilar reparou no guardanapo de pano vermelho com rosa colombiana de entorno, para segurar. Acir refletiu a utilidade da mesa composta de talheres e mais outros, duas taças e um copo de cristal. Os dois notaram o arranjo robusto de flores no centro, com cartão colocado no meio. Acir puxou e leu um pedaço de As sem-razões do amor, editado em uma daquelas fontes que imitam letra de mão, mas logo se arrependeu. Se olharam. Pilar sorriu de canto e Acir comentou o cabelo, a saia e a bota. Pediram o cardápio.
O menu era especial de Dia dos Namorados. Entrada, prato principal, sobremesa e vinho. O garçom, vestido de camisa e colete, chegou à mesa com um sorriso ainda mais alinhado que a própria roupa, e como quem diz desculpe atrapalhar, meus caros. Acir sorriu com os olhos e Pilar fez o pedido, sem vais e vens.
Não se sabe mais qual foi o primeiro a tocar no assunto. Acir falou dos dois, Pilar dos póstumos. Ela, já desconcentrada, desconcertada. Ele indagou e ela culpou as vozes, os sussurros daquela gente toda, namorada, que parece que nunca saiu para jantar. Virou a cadeira, incomodou. Mudou de assunto. Dali a pouco e de novo, os sussurros. Mais ainda, os risos e sorrisos dos outros, os papéis de presente, as mãos. Mão no cabelo, mão na mão, mão no pescoço e olhos de alguém por favor me abre esse laço de fita maior do que eu. Os dois se olharam também.
Acir insistiu. Falou do sorriso e comparou. Reviveu presentes e jantares. E daí os embrulhos, os filmes, as cartas, os poemas de autoria própria e os copiados, os e-mails de vamos almoçar logo que estou com fome, as segundas-feiras, os domingos de rede e cigarro de palha, os sábados avulsos de livro repetido. Os dedos na cara. Os abraços de não quero mais nada, só isso. Os cafés amargos e as discussões de quem quer chegar em algum lugar e as de lugar nenhum. As portas fechadas, as abertas e as encostadas. As frestas de janela. Pilar chamou o garçom, pediu a conta, olhou e desviou o olhar.
Caminharam mudos até a casa de Acir. Ele olhou para o chão e ela fingiu reparar em detalhes do caminho. Se despediram sem se olhar. Acir entrou no quarto e apagou a luz. Já sabia de tudo, inclusive que Pilar não sabia, e por saber, consentiu e desculpou.
Pilar andou de passos largos até o café mais próximo. Tomou três espressos e inventariou os medos, que lembrança boa é traiçoeira, vai e volta, e por isso não se pode inventariar.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Peru real: o bolo é surpresa.



Uma verdade verdadeira é que tentei ao máximo evitar o assunto político da semana. Acontece que a opção mais amena em pauta - muito mais amena, diga-se de passagem - era o casamento real. Preferi então ficar mesmo com o dilema peruano, que ao menos dava para mencionar o Llosa entre um parágrafo e outro. A outra verdade é que ninguém quer saber se o bolo da Kate vai ser de frutas ou de chocolate.

E se é para jogar a real já assim, de cara, digo que a disputa no Peru é uma tristeza só. Dois populistas, um de direita e outro de esquerda. E não há muito o que se possa fazer. Humala, o favorito, é um militar meio confuso. Faz que muda de discurso como muda de samba-canção. Modelo Chávez, modelo Lula, e, do nada, resolve adotar a linha marketeira do paz e amor. De duas, uma: ou ele assistiu Aconteceu em Woodstock e se deixou contagiar pela vibe dos anos 70, ou é um malandro de marca maior. Ou os dois.

À la PT, Humala baseou o blá-blá-blá moderado na solução para a brecha social. A grande transformação é a grande redistribuição da riqueza no país e essa riqueza deve ser repartida entre todos os peruanos. E milhares de indígenas aplaudiram de pé,  enquanto acenavam com a bandeira multicolorida do império inca. A verdade verdadeira desse parágrafo é que a única riqueza que esses indígenas poderiam ter foi toda saqueada em 1532 pelos espanhóis de Pizarro, e agora, José, vai precisar de bem mais que um militar atrapalhado para tirar 10 milhões de peruanos da linha de pobreza.

Afora as crises de personalidade política e do discurso lulista manjado, o favorito defende o intervencionismo, a nacionalização de vários setores da economia e desconfia da iniciativa privada e do capital estrangeiro. Ou seja, de tudo o que permitiu o país crescer na última década. Olha, até a copeira aqui do escritório tem a impressão de que essa aí não é uma boa estratégia. Acabei de perguntar enquanto ela me servia o café.

De resto, tem a Keiko Fujimori, filha de pai ditador, corrupto, condenado a 25 anos de cana por abusos dos direitos humanos. Dá para encarar? Só depois do casamento real, muito bolo de frutas e o triplo de champanhe. Esses dias ela jurou por Deus que, se ganhar as eleições, não concederá indulto ao pai. Ah, ok. Agora sim, dá para confiar.

Ainda, a moça tem uma lista gigante de promessas e é conhecida e temida pela prodigalidade. Há quem diga que a gastança em potencial é capaz de fazer o Peru retroceder no controle da dívida pública e da inflação. E para onde será que vai o dinheiro todo? Já sei. Melhoria do sistema prisional. Que se não dá para soltar, tem que ao menos dar uma forcinha.

Semana passada Llosa mandou uma verdade-quase-que-verdadeira numa coletiva e disse que o Peru está entre duas opções: a AIDS e o câncer terminal. O quase da verdade vem da parcialidade de quem perdeu a eleição para Alberto Fujimori em 1990. A credibilidade vem do fato de que um é Nobel da literatura e, o outro, um bárbaro. Dizem as más línguas que o Llosa é tão sério e tão crível que até o Fujimori está lendo O Paraíso na Outra Esquina na prisão (e mal pode esperar para ler Travessuras da Menina Má)

De final, li por aí que, quando se trata de eleições no Peru, nada está escrito em pedra. Os eleitores costumam mudar muito e às vezes decidem seu voto quando estão diante da urna. Dá para entender. Se eu fosse peruana, fechava o olho e mandava bala. Que seja lá o que for, tem sempre a próxima página de Mário Vargas Llosa. E o casamento real, é claro.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Post-devaneio: O Alienista em Hollywood.




Está mais do que provado: Hollywood tem mais doido que na Casa Verde do Simão Bacamarte. Haja doido varrido. Difícil é achar alguém do tapete vermelho que não seja fora da casinha. Ano que vem, deveriam inventar uma nova categoria de Oscar: o da sanidade.

Parece que a última moda do zoológico é o Charlie Sheen: alcoólatra, violento, viciado em entorpecentes, e um dos atores mais bem pagos da indústria. Pelo menos ele não vê problema em divulgar a receita: atirar na ex-namorada acidentalmente, bater na mulher intencionalmente e ser visto todos os dias com mocinhas da vida do Colorado. Não necessariamente nessa ordem. Ah, e claro, tem o marketing extra. Que ser o palhaço do circo não basta, tem que divulgar. As aparições públicas de eu juro que estou limpo acompanham cigarro e copo supersize de mais de litro de whisky. Super crível, o rapaz. Mês passado, para explicar o ocorrido do The Plaza Hotel, lá foi ele para o Good Morning America: Don't you worry you’re gonna die? Dying is for fools. I’m different. I’m me. E bingo para egomania!

Nada de novo. As bizarrices sempre estiveram lá, no mundo, na televisão. O melhor exemplo de a arte imita a vida. Tragicomédias protagonizadas pelas pessoas mais ricas e famosas do mundo. Ou melhor, dos Estados Unidos, a Casa Verde do mundo. Pois quem não se lembra de quando o Michael Jackson apareceu no 60 minutes dizendo que não via nada demais em dormir com criança? A vontade era de gritar, reformula, Michael, reformula! Melhor que isso, só a Whitney na Diane Sawyer: crack is cheap. I make too much money to ever smoke crack. We don't do crack. We don't do that. Crack is wack. Boa, Whitney, que drogada e preconceituosa numa frase só é para poucos. Entrevistas inesquecíveis. E ninguém ficou menos famoso por causa disso.* Agora, será que ficou mais?

Causa para ou conseqüência do sucesso, potatoes potato's, ou nehuma das opções, a loucura, nas suas formas mais variadas, está toda lá, no micro-universo das celebridades doidas de pedra.

E a verdade é que, um ou outro, maluco é maluco, e, assim como o Charlie Harper e a exemplo de todas os famosos com parafuso a menos, Sheen deveria se internar e procurar uma terapeuta. Só não vale a clínica Betty Ford ou a Sarah White: the naked therapist, respectivamente. (Dizem que a maluca cobra 150 dólares por uma sessão inicial via webcam, e 450 por uma sessão chega mais. De um jeito ou de outro, o relevante é que ela tira a roupa toda durante a hora de divã. Ouvi um cara dizer que achou a idéia fantástica, porque ao invés de ficar enganando a si mesmo e ao psicanalista falando de como se sente impotente na vida, o sujeito vai lá, tira a calça e já manda a real: acho que tenho o negócio pequeno. Aí, depois do “tetê-à-tetê” com a psicóloga, sai vencedor do consultório e com uma única instrução: faça com a vida o que você acabou de fazer comigo). Só sei que se eu fosse terapeuta recomendaria ao Sheen que largasse a vida de Charlie Harper e pedisse ao papai um cargo de assessor do presidente no West Wing. Se colar ele personifica e, de bon vivant, vira burocrata. Ou dá no mesmo?

É verdade também que, um ou outro, celebridade é celebridade. E enquanto para eles barraco é glamour, aqui, na vida real, quem pisa na bola acaba na superlotação do Presídio Central, que, combinemos, não tem nada, nem de Casa Verde, nem de tapete vermelho.

* Para diversão nas horas muito, mas muito vagas, os tais vídeos:

http://www.youtube.com/watch?v=h5aSa4tmVNM
http://www.youtube.com/watch?v=UKti-AjG2w4
http://www.youtube.com/watch?v=UrnEcMZQD3E

terça-feira, 15 de março de 2011

Oprah-bama.


 


Falemos de amenidades, que de tsunami oriental o governo japonês, ou melhor, a Band News, cuida. É que andei lendo por aí, em tudo quanto é jornal e revista americanos, antes do flood jornalístico do tsunami, que enquanto o presidente faz um estica e puxa para lidar com a rotina presidencial, a patroa tem sido, sem malabarismos, um arraso de primeira-dama.

Segundo pesquisas norte-americanas, Michelle Obama tem aprovação popular substantivamente maior do que a do marido. E olha que o cara é simpático, não é não? Tão simpático, mas tão simpático, que seria melhor garoto propaganda do que presidente. [Um amigo disse, certa vez, que achava que o Obama, de pequeno, era o garoto dos cigarrinhos de chocolate Pan, ao que outro amigo respondeu impossível!, que a marca é brasileira e posar com cigarros, ainda que de mentirinha, não pegaria nada bem para um aspirante a presidente. Mas que parece, parece mesmo*].

Fiquei pensando o que é que a primeira-dama tem que Jackie Kennedy e Nancy Reagan não tinham. Porque, diferente do marido, nunca achei a mulher lá muito simpática, confesso. É uma figura elegante per se, vá lá. Transmite algo de segura, algo de inteligente, algo de freqüentei Princeton e Harvard, isso sim. Mas até aí, as outras todas também. E se o ponto é estilo acima de substância, fico com a elegância da Jackie Onassis e as pernas da Carla Bruni. But that’s just me.

Ocorre que os aplausos exagerados parecem não envolver apenas o quesito alta couture. Que além de ter aparecido duas vezes na lista dos mais bem vestidos da Vanity Fair, Dona Obama foi listada pela Essence como uma das 25 Mulheres mais Inspiradoras do Mundo. Pois é. Do-mun-do-to-do.

O que dizem por aí é que, diferentemente das demais, Michelle O. tem um “quê” de popular, de Evita depois do sol da Bahia. Melhor ainda, de Oprah. Fora o canal próprio de televisão, é claro. Que canal com as iniciais do nome só a Oprah e o Eike Batista, porque haja narcisismo, minha gente.

Parece que o apelo do tête-à-tête é tão grande que nem a vovó Elizabete resistiu, e acabou colocando o braço nas costas da primeira-dama, em rara demonstração pública de afeição, segundo um porta-voz anônimo do Buckingham Palace. Se bem que depois que o Bush piscou para a velha naquele discurso atrapalhado de boas-vindas na Casa Branca, acho mesmo é que a coitada desencanou de todos e quaisquer protocolos reais quando em terras norte-americanas. (Pois que o mesmo porta-voz anônimo disse que, depois do encontro com os Obama, a Rainha foi vista em uma loja do Cheesecake Factory comendo um 10-inch Wild Blueberry. Com a mão. Do lado do Justin Bieber).

Rumores à parte, dizem ainda que a primeira-dama é de um engajamento sem limites. É projeto para tudo quanto é gosto. O mais famoso é aquele contra a obesidade infantil, que incentiva a alimentação saudável e a prática de exercícios físicos pelas crianças americanas. Só sei que se a Michelle Obama tiver a metade do azar da Sarah Palin, uma das filhas fica obesa até o fim desse ano. Análoga e hipoteticamente, será que se isso acontecer o Obama desiste da presidência? Vai chover Double Quarter Pounder com extra cheese no mailbox da Casa Branca! Cortesia do povo americano.

Bom, se a moça é tudo isso mesmo ou se os americanos estão forçando a barra na tentativa de curar a frustração causada pela performance presidencial de meia-tigela, não se sabe. O que se sabe bem é aquilo que está escrito em letras garrafais na página da White House barra first-lady ponto gov: advogada, esposa, mãe, e a serviço do povo

E diz ainda que ela só come alimentos orgânicos. Michelle, ensina essa dieta para a Oprah. Ah, e Whatever you do, don't touch the Queen. Que além de pegar mal, faz que deixa a velha confusa.


* Para ilustrar a alusão, o cigarrinho presidencial: